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quarta-feira, 25 de julho de 2012

A seleção brasileira da Copa de 1970 e a ditadura militar

Momento histórico marcou consolidação de um regime e de uma entidade que rege o futebol no país até hoje
Frederico Machado Fagundes Rodrigues


Quem nunca ouviu a música tema da Copa do Mundo de 1970, que emociona até quem nasceu em época posterior à competição, e não se sentiu empolgado com um sentimento de nacionalismo aflorado com a esperança de que um dia o Brasil vai dar certo? A letra da música "Pra frente Brasil" nos conduz a imaginar que a nação está trilhando no caminho certo e que os governantes (da época), nada mais queriam do que nos "salvar" dos riscos que corríamos com os "comunistas malvados" que aprontavam uma enorme baderna sem um motivo aparente só para atingir a moral e os bons costumes ditados pela sociedade elitista da época.

A música é bem clara quanto ao apelo do governo militar de que a população deveria se unir para seguir em frente e não deixar quebrar a corrente: "noventa milhões em ação... É aquela corrente pra frente... Parece que todo Brasil deu a mão...", fazendo uma analogia dos jogos da seleção nacional de futebol no mundial do México com a luta do governo contra a "ameaça vermelha" citada acima.



Vamos aos fatos históricos:
No torneio sul-americano das eliminatórias do mesmo mundial, no ano de 1969, João Saldanha era o técnico da esquadra canarinho e classifica o Brasil, com Pelé em campo, para o torneio máximo do futebol mundial organizado pela Fifa. Saldanha montou a base dos melhores jogadores brasileiros, preparados e organizados para que a seleção brasileira trouxesse a posse definitiva da taça Jules Rimet. A situação política no país era tensa e no mesmo ano da disputa das eliminatórias foi instituído o AI5 (Ato Institucional número 5), um ato autoritário imposto pelo então presidente da República Arthur da Costa e Silva, que praticamente sufocava por completo os direitos de livre expressão do cidadão e que prometia uma verdadeira "caça às bruxas" contra aqueles que eram contrários ao governo militar e seus propósitos, coibindo por completo as ações dos movimentos sociais.



O general Costa e Silva afastou-se do governo por problemas de saúde e em 30 de outubro de 1969 assume Emílio Garrastazu Médice, que era entusiasta do futebol e entendia muito bem como aproveitar a paixão nacional pelo esporte para fazer a propaganda pró-ditadura, provocando, inclusive, a saída do técnico João Saldanha (que nutria uma grande simpatia aos movimentos de esquerda e há quem diga de uma estreita ligação dele com o PCB), exigindo a convocação de Dario, o Dadá Maravilha.



Com personalidade forte, o comandante da seleção afirmou que o presidente deveria se preocupar em escalar o ministério e que o time que iria para Copa do Mundo era preocupação da comissão técnica, custando, assim, seu cargo frente à CBD (atual CBF). Quem foi chamado para assumir a vaga foi Zagallo, que havia sido campeão da Copa como jogador em 1958 e 1962, vindo conquistar o título de 1994, no mundial dos EUA, como auxiliar técnico. O Brasil vivia período de incertezas políticas e os ânimos precisavam ser acalmados. Para isso, Médice usou uma tática dos imperadores romanos para que se esquecesse do período turbulento dos anos de chumbo: a política do "pão e circo". A CBD recebeu todo o respaldo governista para que o time fosse comparado com o próprio país, ficando a imagem de que se o Brasil desse certo no futebol, também daria certo no regime proposto pelos militares até então, mostrando que a ditadura não era tão ruim quanto se mostrava (na visão da propaganda militar).



O Brasil tinha em seu elenco o melhor jogador de todos os tempos (menos para os argentinos, que elegeram Maradona.), que foi aclamado rei: Pelé era o modelo ideal de atleta e disciplina o qual se pregava na ditadura. Era o principal jogador do elenco e todas as atenções estavam voltadas para ele, mostrando não só sua habilidade técnica, mas também sua postura de um verdadeiro cidadão brasileiro (para os padrões da propaganda proposta) disposto a defender a causa nacional a qual lhe foi imposta, sendo submisso a um propósito maior: todos em defesa do Brasil contra os subversivos que ameaçavam a ordem nacional. Enfim, a ditadura mostrava a que veio e utilizou do artifício do esporte, sobretudo o futebol, para aplicar sua ideologia do milagre brasileiro.



O Brasil saiu vitorioso, conquistando em definitivo a taça Jules Rimet, fortalecendo ditadura e CBD, mostrando que a proposta imposta pelo braço de ferro dos militares brasileiros, de certa forma, penduraria por mais algum tempo, precisamente mais 14 anos, onde muitos brasileiros e o país, como um todo, pagaram muito caro, colhendo, até hoje, o fruto das sequelas deixadas pelos militares e pensamentos como: "O Brasil só dá certo no futebol...".

*Frederico Machado Fagundes Rodrigues é graduado em História pela UCG e consultor de relacionamento na Atento Brasil S/A.


http://www.universidadedofutebol.com.br

terça-feira, 24 de julho de 2012

BOLSONARO E O REGIME MILITAR, TORTURA E DIREITOS SEXUAIS.




Esse é o FDP filho da ditadura que hoje se esconde como gente no congresso nacional. Esse é um daqueles vermes em costumo falar. Nem sei se não chega a ser uma ofensa pra ele, mas para o bicho chamado verme, tenho certeza que é!!!! Comentem, critiquem o defendam o traste!!! O machão que torturava até mulheres grávidas, como se não fosse uma mulher que lhe deu a vida!! Pra este tipo de "gente" é que eu defendo a pena de morte. Pra covardes escondidos atras de uma farda! Pra mim só tem uma coisa pra esse vagabundo. Morte, mais nada!! E ainda querem puni-lo com a perda do mandat??? Isso tras a vida que este covarde exterminou pelo simples fato de irem contra suas porcas idéias?? Esse é o Brasil, pois deixa este tipinho fazer uma coisa dessas na China e vamos ver quantos projéteis a famíla desse animal terá de pagar que serão devidamente usadas no meio daquela testa!!!
Nada de perda de mandato, marginal tem que apodrecer na cadeia ou morrer do mesmo jeito covarde em que matava inocentes!!
Conheçam este covarde e tem muitos deste tipinho se fazendo de amiguinho do povo pra levar seu voto e depois fazer o que nunca deixaram de fazer: COVARDIA

BOLSONARO PODE SER PUNIDO COM A PERDA DO MANDATO






Mais uma vez Bolsonaro lutando contra os Direitos Humanos, desta vez fez tumultuo na primeira reunião da Comissão Parlamentar da Memória, ligada à Comissão de Direitos Humanos, xingando e ofendendo funcionários, deputados e convidados que prestavam depoimentos - ex-integrantes do Exército e camponeses, envolvidos na Guerrilha do Araguaia.

Ele tentou de tudo para obstruir os trabalhos e paralisar as atividades da comissão, não conseguindo, ele ficou no corredor, aos berros, fazendo ameaças a todo mundo.

“Na reunião, ele ameaçou depoentes, xingou um funcionário da casa, destratou outros parlamentares e deixou a coordenadora da Subcomissão, a deputada Luiza Erundina (PDT-SP), completamente constrangida”, conforme contou o presidente da CDH, deputado Domingos Dutra (PT-MA).


A reunião era fechada para proteger os depoentes, no entanto Bolsonaro tentou intimidar os depoentes, tirando fotografias, inicialmente, ele teria pedido o nome e o endereço dos depoentes ao secretário da comissão, depois aos berros, Bolsonaro chamou os depoentes de mentirosos, segundo narração dos integrantes da comissão, “seus gritos constituíram visíveis ameaças aos depoentes a ponto de um deles não conter seu choro de medo e indignação”.



Quando não conseguiu a lista com o nome e o endereço dos depoentes o deputado quis tomar os papéis e documentos de um servidor, que teria se negado a entregar argumentando que precisava da autorização do presidente da comissão, então Bolsonaro xingou o servidor de "cachorrinho".


Quando começou a fotografar os depoentes foi alertado pelo servidor da proibição, afirmou que “Não, eu sou deputado e você cale a boca que a conversa ainda não chegou no chiqueiro”, humilhando o pobre servidor. Bolsonaro teria repetido a mesma expressão ao referir-se ao deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), que tentava evitar o tumulto na reunião.


Bolsonaro, com maior cara de pau, ainda confirmou o que disse ao servidor: “‘A conversa não chegou no chiqueiro, na pocilga’. Falei para ele, qual o problema?”



A REAÇÃO


O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) cobrou uma ação efetiva da corregedoria. "A postura de Bolsonaro é de incitação à violência. Se a Câmara permitir isso, porque as ruas não irão reproduzir o mesmo?", afirmou Chico, alertando para o perigo de a Casa tratar a atitude de Bolsonaro como uma normalidade.


Bolsonaro é um reincidente, que se posiciona de forma agressiva em relação a todas as causas ligadas aos direitos humanos. Representa os herdeiros da ditadura militar e, por isso, tenta prejudicar os trabalhos da Subcomissão, criada para acompanhar, fiscalizar e ajudar a Comissão Nacional da Verdade, que será instituída pela presidenta Dilma Rousseff.


Apesar de reservada, a reunião foi registrada pela TV Câmara, apenas para uso interno dos deputados. De acordo com a comissão, a gravação servirá de prova contra o parlamentar.


Se for comprovada a quebra de decoro, Bolsonaro pode ser punido com a perda do mandato.


Para Dutra, o entrevero com Bolsonaro revela a exata dimensão de como a investigação dos crimes da ditadura ainda gera polêmica. Muita gente não quer que se descubra o que aconteceu neste período da nossa história.




Bolsonaro é defensor da ditadura, opositor dos direitos sexuais, e defensor da tortura.


Ele afirmou que os anos da ditadura militar “Foram 20 anos de ordem e de progresso” e “O regime, dito de força, negociou e foi além das expectativas dos derrotados ao propor anistia até mesmo para crimes de terrorismo praticados pela esquerda. Agora, no poder, eles [os que eram da esquerda] querem escrever a história sob sua ótica, de olhos vendados para a verdade.”




E continuou, “é notório que a esquerda quer passar para a história como a grande vítima que lutou pelo Estado democrático atual, invertendo completamente o papel dos militares, que, em 1964, por exigência da imprensa, da Igreja Católica, de empresários, de agricultores e de mulheres nas ruas intervieram para que nosso país não se transformasse, à época, em mais um satélite da União Soviética”.


Ele ainda diz que foram os militares (que construíram a ditadura) que lutaram pelo Estado democrático atual... Bela inversão de papeis.


Ele fixou na porta de seu escritório um cartaz que dizia aos familiares dos desaparecidos da ditadura militar "quem procura osso é cachorro".


De acordo com a entrevista de 2000 dada à IstoÉ, Bolsonaro ainda defende a censura, embora a reportagem não especifique qual tipo. Em entrevista concedida no sítio da revista Época, em julho de 2011, o parlamentar afirmou que o regime militar não foi uma ditadura.


Nesta mesma entrevista à revista IstoÉ (2000), ele defende a utilização da tortura em casos de tráfico de droga e sequestro e a execução sumária em casos de crime premeditado. Bolsonaro justifica o uso da tortura pois, segundo ele, "O objetivo é fazer o cara abrir a boca. O cara tem que ser arrebentado para abrir o bico."





Isto tudo sem falar em seus pronunciamentos recheados de preconceitos contra homossexuais.


DIA SEGUINTE


Pela manhã, em discurso no plenário, Bolsonaro criticou a Comissão da Verdade, criada no âmbito do governo pela presidente Dilma Rousseff. "Comissão da patifaria! Comissão da patifaria! Eu quero saber quem são os sete venais ou os sete sem caráter que vão aceitar fazer parte (da comissão)", disse Bolsonaro.



DESEJO


Desejo muito que o Bolsonaro seja punido por falta de decoro e apologia ao crime.


INFORMAÇÕES


Qualquer pessoa que tenha informações sobre o período militar e queira se manifestar na comissão pode entrar em contato pelo e-Democracia ou pelo telefone da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (61) 3216-6570.





Fontes:
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,bolsonaro-pode-responder-a-processo-na-camara-por-mau-comportamento,857370,0.htm



processo:

http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITOS-HUMANOS/413887-DIREITOS-HUMANOS-PEDE-PROCESSO-CONTRA-BOLSONARO-POR-QUEBRA-DE-DECORO.html

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Elis Regina, a Ditadura Militar e Luis Inácio Lula da Silva

Sair da vida para um cemitério, é comum, acontece com todo mundo. Mas sair de um cemitério para a vida, só mesmo simbolicamente. Pois foi o que aconteceu com uma gaúcha chamada Elis Regina Carvalho Costa que, em 36 anos de vida, gravou 27 LPs, 14 compactos simples e seis duplos, que venderam um total de quatro milhões de cópias – um número até hoje impressionante.


Em poucos anos, Elis sai do Inferno para o Paraíso. Ao Inferno, ela chega ao ser “enterrada” no Cemitério dos Mortos-Vivos do Cabôco Mamadô – para onde o cartunista Henfil, no semanário O Pasquim, mandava pessoas que, na opinião dele, colaboravam com a ditadura militar no início da década de 70. Ao Paraíso, Elis ascende ao liderar um grupo de artistas de esquerda (Fagner, Belchior, Gonzaguinha, João Bosco, Macalé e Carlinhos Vergueiro, entre outros), que faz vários shows para levantar dinheiro para o Fundo da Greve do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, no ABC paulista, em 1979.


Essa vivência política é um lado pouco conhecido de Elis Regina que, aos 18 anos, foi sozinha para o Rio de Janeiro, onde chegou a morar num quarto-e-sala na Rua Barata Ribeiro, 200, em Copacabana (um prédio tipo balança-mas-não-cai, celebrizado numa peça de teatro, “Um Edifício Chamado 200”, de Paulo Pontes).


Em 1965, acontece o estouro: Elis vence o I Festival de Música Popular, da TV Excelsior, com “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Elis fez pelo menos três shows antológicos: Falso Brilhante (1975), Transversal do Tempo (1977) e Saudade do Brasil (1980).


Dos seus discos, a maioria de qualidade acima da média, o melhor é o que gravou com Tom Jobim, em 1974, nos EUA, considerado uma obra-prima, mesmo por quem não gosta de Elis Regina. Por causa do seu gestual no palco, agitando os braços como se nadasse de costas, Elis foi chamada de Elis-Cóptero e Élice-Regina, mas o apelido que pega, mesmo, é o que lhe dá Vinicius: Pimentinha. Sim, porque, dali em diante, já como estrela conhecida no país inteiro, ela iria, por assim dizer, apimentar muitos aspectos da vida cultural brasileira, durante praticamente duas décadas.


Do cemitério à anistia – O episódio mais apimentado da vida de Elis, sem dúvida, foi o seu “enterro” no Cemitério do Cabôco Mamadô. Lá, ela fez companhia a gente como Wilson Simonal, Amaral Neto (um deputado carioca de direita, defensor da pena de morte e alcunhado de Amoral Nato), e Flávio Cavalcanti (um apresentador de TV que liderou, metralhadora na mão, a invasão e depredação do jornal Última Hora, no Centro do Rio de Janeiro, logo no início de abril de 1964).




Elis foi “enterrada” por Henfil por duas atitudes em relação ao Governo Federal, na época chefiado pelo ditador-de-plantão general Garrastazu Médici, o mais sanguinário dos militares-presidentes. Primeiro, foi a gravação de uma chamada veiculada em todas as TVs, a partir de abril, conclamando o povo a cantar o Hino Nacional no dia 7 de setembro de 1972. Foi o ano do Sesquicentenário da Independência, uma data que a ditadura aproveitou ao máximo (inclusive com a organização de uma Mini-Copa de futebol, vencida pela Seleção Brasileira).



Vários outros artistas também apareceram em chamadas de TV, promovendo a Olimpíada do Exército, em filmes produzidos pela Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República. A AERP foi uma reedição atualizada do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) do Estado Novo (1937-1945). Por isso, Marília Pêra, Paulo Gracindo, Tarcísio Meira e Glória Menezes, entre outros, também foram “enterrados”.


A segunda atitude de Elis que provocou a ira-santa de Henfil (e um segundo “enterro…”) foi a apresentação dela na Olimpíada da Semana do Exército, em setembro do mesmo ano, 1972.


Hoje, mais de 30 anos depois do Cemitério do Cabôco Mamadô do Pasquim, é preciso entender aqueles tempos-de-chumbo para compreender a postura radical de Henfil. Vivia-se um momento de intensa repressão política. Mas a razão principal do “enterro” de Elis, está no próprio Henfil – um artista engajado que não fazia concessões, e pagou por isso –, que tinha um irmão exilado, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, um militante que fugiu do Brasil para não ser assassinado pelos órgãos de segurança.


E Betinho, indiretamente, teve a ver com um dos motivos para a passagem de Elis do Inferno para o Paraíso: a gravação, em março de 1979, de uma das músicas politicamente mais engajadas da MPB, “O Bêbado e a Equilibrista”. De João Bosco e Aldir Blanc, a música foi uma espécie de hino de um dos mais importantes movimentos políticos da História do Brasil: a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita. A campanha foi lançada em janeiro de 1978, com a criação do Comitê Brasileiro de Anistia (CBA), no Rio de Janeiro. “O Bêbado e a Equilibrista” – que emociona até hoje, fala na “volta do irmão do Henfil”. Na época, Betinho – que, como Henfil e o outro irmão, Francisco Mário, era hemofílico e pegou Aids numa transfusão de sangue – estava no México, esperando, justamente, a anistia.


Elis e Henfil: cara-a-cara – O “coveiro” Henfil e sua “defunta” Elis acabaram se encontrando, por iniciativa dela. Sobre esse momento, Henfil deu, três anos depois da morte da cantora, um depoimento tão sincero quanto comovente a Regina Echeverria, autora de “Furacão Elis” (Nórdica – Rio de Janeiro, 1985). O cartunista não pediu desculpas por tê-la “enterrado”, mas se arrependeu. Os dois acabaram amigos sinceros, trabalharam juntos e se falaram até dois meses antes da morte da cantora. Com a palavra, Henfil:



– Foi igualzinho a hoje. De repente, os artistas são arrebanhados pelo Governo, só que – eu não sabia – debaixo de vara, de ameaças, para fazerem uma campanha da Semana do Exército. O que eu vi, na realidade, foi o comercial de televisão. Me aparece o Roberto Carlos dizendo: “Vamos lá, pessoal, cantar o Hino Nacional”. E, de repente, a Elis surge regendo um monte de cantores, de fraque de maestro, regendo o Hino Nacional. E nessa época nós estávamos no Pasquim e eu, mais que os outros, contra-atacando todos aqueles que aderiram à ditadura, ao ditador-de-plantão. (…). Eu só me arrependo de ter enterrado duas pessoas – Clarice Lispector e Elis Regina. (…) Eu não percebi o peso da minha mão. Eu sei que tinha uma mão muito pesada, mas eu não percebia que o tipo de crítica que eu fazia era realmente enfiar o dedo no câncer. Quando nos encontramos anos depois, (…) fomos jantar numa cantina perto do Teatro Bandeirantes e ela fez questão de sentar na minha frente. (…) De repente, ela começou a falar: “Pô, bicho, eu te amo tanto, bicho, te gosto tanto”. E eu já não estava gostando dessa história de “bicho”, porque eu não gostava do jeito que ela falava, nunca gostei. Daí me irritei e disse: “Elis, o que você está querendo dizer com isso? ”. Aí, ela começou a chorar. As pessoas na mesa enfiaram a cara no prato, todos sabiam o que eu tinha feito, só eu não sabia. Ela disse: “Pô, você me enterrou”, e começou a me esculhambar, dizendo que aquilo foi uma covardia, que ela estava ameaçada. (…) Elis nunca me perguntou se eu estava atacando porque ela estava defendendo um regime militar que queria matar meu irmão. (…) Resolvi engolir. Ela terminou de falar, entendeu meu subtexto: “Tá, Elis, eu aceito”. (…) Evidente que os militares estavam pressionando o país inteiro. Eu sabia disso, os militares faziam censura prévia no meu jornal (Pasquim), presença física, todo dia. (…) Então, tinha todo o direito de criticar uma pessoa que ia para a televisão se entregar. Eu não mudei em nada e ela percebeu isso. (…)




– Ela tinha a preocupação de me provar que tinha mudado. Que continuava uma pessoa de confiança ideologicamente. (…) Como se eu fosse inspetor de quem não é de esquerda. Aí, mandava dinheiro: do show que fez no Canecão, inclusive para que eu entregasse aos grevistas de São Bernardo. (…)


No enterro, uma roupa censurada – A atividade política de Elis Regina não se limitou apenas aos shows para os grevistas do ABC ou à gravação do Hino da Anistia. Por exemplo: ela se engajou no esforço de vários artistas para saber o paradeiro do pianista Tenório Júnior, que fazia uma excursão a Buenos Aires, acompanhando Vinicius de Moraes e Toquinho. O músico foi preso na rua, em março de 1976 – sem documento, quando ia a uma farmácia comprar remédio para asma – possivelmente confundido pela repressão argentina com um guerrilheiro.

Elis casou duas vezes (com o compositor Ronaldo Bôscoli e com o músico César Camargo Mariano), e teve três filhos (o músico e produtor João Marcelo Bôscoli e os cantores Pedro Mariano e Maria Rita).




Morreu em São Paulo por overdose de cocaína, às 11h45 do dia 19 de janeiro de 1982. O velório foi no Teatro Bandeirantes, por onde passaram mais de 60 mil pessoas. No dia seguinte, 20 de janeiro, Elis é enterrada no Cemitério (de verdade) do Morumbi. Seu corpo vestia uma roupa que ela foi proibida, pela Censura, de usar no show Saudade do Brasil – uma camiseta com um desenho da Bandeira do Brasil onde, no lugar do “Ordem e Progresso”, estava escrito: ELIS REGINA. Quer dizer: Elis Regina Carvalho Costa, politicamente falando, riu por último ao ser enterrada com a roupa censurada. Tanto que, hoje, é lembrada pela música “O Bêbado e a Equilibrista” e a anistia, e não pela sua “passagem” pelo Cemitério dos mortos-vivos.

tags: elis, musica, mpb, overdose, cantora,ditadura, militar, lula

Fonte: Blog o apedeuta