terça-feira, 28 de agosto de 2012

Imigração Italiana para o Rio Grande do Sul - 1875


A Chegada no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul recebeu seus primeiros descendentes de italianos em maio de 1875. Três famílias milanesas de Monza instalaram-se em Nova Milano (hoje, Farroupilha), iniciando um núcleo que marcaria de forma definitiva a cultura e a economia do Estado. Até 1914, mais de 80 mil imigrantes, vindos sobretudo da Lombardia, do Vêneto e do Tirol, enfrentaram as condições precárias de travessia nos navios e a instalação no território selvagem e pouco acolhedor da serra gaúcha. Conforme a Lei Estadual do Estado do Rio Grande do Sul, ficou estabelecida a data de 20 de Maio de 1875, como o marco zero da imigração italiana em terras gaúchas.
As primeiras colônias italianas criadas no Rio Grande do Sul foram as de: Conde D'Eu, Dona Isabel e Nova Palmira (atualmente Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, respectivamente).

Em 1877, foi fundada Silveira Martins, conhecida por 4ª Colônia, próximo a atual cidade de Santa Maria. Estas quatro colônias oficiais formaram o núcleo básico da colonização italiana no Rio Grande do Sul.
Boa parte desses retirantes do norte da Itália emigraram num período extremo de conflito entre os liberais e os católicos.
Os colonos buscaram reconstruir, em solo gaúcho, o mundo campesino, a temporalidade das aldeias, reconfigurando suas tradições e a sociabilidade principalmente em torno da Igreja católica. O dialeto, as narrativas, as festas, a massa, o galeto e o vinho, valores caros como o trabalho e a família, são elementos presentes até hoje no imaginário regional, constituindo uma espécie de saga da imigração italiana, envolvendo desde o estereótipo do colono até pequenos e expressivos hábitos arraigados no dia-a-dia.

Caxias do Sul em 1880

Em 24 de maio de 1870, o então Presidente Dr. João Sertório, criava as Colônias "Conde D'Eu" e "Dona Isabel".

Os primeiros imigrantes chegados a Dona Isabel, oriundos do norte da Itália, chegaram no dia 24 de dezembro de 1875. Ocuparam uma esplanada onde hoje localiza-se a Igreja Cristo Rei (Bairro Cidade Alta), onde ficaram aguardando a distribuição das terras.

Em 1881 é iniciada a abertura da primeira estrada de rodagem, chamada Buarque de Macedo, ligando as colônias Dona Isabel, Conde D’Eu, e Alfredo Chaves. É a atual RST 470, a mais antiga via do Rio Grande do Sul a ligar Montenegro até o Estado de Santa Catarina.

Em 1884, com a crescente chegada de novos imigrantes, os colonos começaram a atravessar o rio das Antas e assim foram criadas as colônias de Alfredo Chaves, de São Marcos e Antonio Prado, estas duas últimas em 1885. Essas colônias eram formadas por imigrantes italianos de várias proveniências, sendo que a predominância esmagadora era formada por vênetos.


A colônia Dona Isabel foi desmembrada da então colônia de São João de Montenegro através do Ato nº 474, de 11/10/1890 pelo Governador do Estado General Cândido Costa, com a denominação de Bento Gonçalves em homenagem ao General Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução Farroupilha (que durou de 1835 a 1845) e Presidente da República do Piratini, hoje Estado do Rio Grande do Sul.

Causas da Imigração Vêneta

Emigrantes a bordo de navio


Inúmeras são as causas desse verdadeiro êxodo Vêneto que, no período de aproximadamente cem anos, esvaziou vilas e cidades, um fenômeno jamais visto nos tempos modernos.

A grande emigração vêneta fez com que milhares de homens, mulheres e crianças tivessem que abandonar, desordenadamente e sem auxílio do governo, a terra natal para, procurar trabalho e melhores condições de vida em lugares distantes e pouco conhecidos. Em primeiro lugar, devemos levar em conta a somatória de fatores locais vênetos, ocorridos nos últimos cinqüenta anos finais do século XIX, os quais, muito contribuíram para romper o relativo equilíbrio existente, agravando a já tão difícil vida de milhares de pobres agricultores, diaristas e pequenos artesãos.

A população vêneta, como de toda a Europa,
devido a melhoria das condições de higiene, principalmente com uma maior redução da mortalidade infantil, experimentou nesse período um aumento importante e nunca conhecido.

A agricultura vêneta nesta época, que antecedeu a grande emigração, era muito atrasada. Durante centenas de anos muito pouco foi acrescentado em novas técnicas, desde a introdução da batata e do milho nos séculos anteriores, produtos estes que contribuíram, ainda no governo da Sereníssima República de Veneza, para manter a população vêneta mais ou menos equilibrada. Pelo atraso em que se encontrava, não conseguiu suportar a concorrência de produtos importados de outros países, principalmente dos Estados Unidos da América, que chegavam por preços mais baixos.

Uma série de desastres naturais, também se abateu sobre todo o Vêneto neste período, com secas, inundações, granizo e pragas, contribuindo para agravar a já deficiente produção agrícola vêneta e a conseqüência foi a fome e doenças carenciais, como a pelagra.

O atraso da Itália em geral, e do Vêneto em particular, também ficava evidente no que diz respeito a industrialização, movimento que só apareceu na região em fins do século XIX, ainda que timidamente, não oferecendo trabalho suficiente para aquela mão de obra expulsa do campo.

Mapa da Província de Vêneto


A "independência" do Vêneto, ocorrida em 1866, que da esfera do poder áustro-húngaro desde o fatídico 1775, passou, então, a fazer parte do Reino da Itália, comandado pela piemontesa Casa de Savoia, criou inúmeros problemas em toda a região. Entre eles a proibição de uso das terras da Igreja, fonte de sustento de grande número de pequenos agricultores, criadores de gado e lenhadores, os quais com o seu trabalho, tiravam daqueles locais o sustento para suas famílias. Também a criação de impostos abusivos, que puniam sempre os mais fracos, tornando-os cada vez mais pobres. Entre esses odiosos impostos estavam a taxa sobre o volume de grãos moídos, que era cobrado diretamente no moinho e a taxa sobre a venda de sal.

O confisco das terras da Igreja pelo Reino da Itália, também criou um grande atrito na região do Vêneto, onde a presença de católicos eram a maioria. O desentendimento entre Igreja e Estado durou até próximo ao período republicano.

O tipo de relacionamento entre o capital e o trabalho, ainda herança da era medieval, onde o patrão, dono da terra, detinha o controle quase total do empregado, ao qual, sem leis específicas de proteção, só restava calar sempre, obedecer sempre.

A vontade de libertação do jugo do patrão, exercido ainda de forma medieval, juntamente com a fome crônica que grassava na região, com a falta de perspectivas para o futuro e, posteriormente, a ação desonesta de angariadores de mão-de-obra e divulgadores do "el dorado" brasileiro, foram, sem dúvidas, as causas mais próximas da grande emigração vêneta para o Brasil.


Links:

Fotos Hospedaria Ilha das Flores: http://www.cantoni.pro.br/ilhaflores/antigas.html

Referências Bibliográficas:

Jornal do MARGS (Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli); Maio 2005, número 107.

http://veneti.blogspot.com, acessado em 25 de janeiro de 2007.

http://www.imigrantesitalianos.com.br/

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